Modelagens sobre mudanças climáticas na Terra são confirmadas em Marte

Escrito em 19/10/2012 por Deborah Zabarenko

Modelos de computador previram com precisão as condições de Marte e são preditores válidos das mudanças climáticas na Terra, astrônomos dos EUA e da França disseram na terça-feira.

Esses programas de computador previram as geleiras marcianas e outras características do planeta vizinho, descobriram cientistas.

“Alguns indivíduos sugerem que as modelagens sobre mudanças climáticas na Terra são ‘ciência-lixo’, mas se os modelos climáticos podem explicar características observadas em outros planetas, então devem ter ao menos alguma validade”,  declarou William Hartmann, pesquisador do Instituto de Ciências Planetárias.
As descobertas da equipe foram apresentadas no encontro anual da divisão de ciências planetárias da Sociedade Astronômica dos EUA em Reno, Nevada.

Alguns céticos das mudanças climáticas, como o senador dos EUA James Inhofe, republicano de Oklahoma, dizem que o aquecimento global estimulado pelos humanos é uma farsa. Outros aceitam que o clima da Terra está mudando, mas não consideram a causa humana. Outros ainda, incluindo o candidato presidencial republicano Mitt Romney, aceitam a ideia das mudanças climáticas, mas sustentam que a ciência é inconclusiva.

A ciência da previsão das mudanças climáticas depende em parte de modelos complexos de computador que levam em conta múltiplos fatores que influenciam o clima da Terra, incluindo o nível de dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa na atmosfera.

Vários modelos previram que a temperatura média global aumentará dois graus Celsius neste século se as emissões de gases do efeito estufa continuarem nos níveis atuais.

Os recentes aumentos na temperatura global sustentam essas previsões. Na segunda-feira, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA reportou que setembro de 2012 foi o mês mais quente da Terra nos registros modernos, e foi o 331º mês consecutivo acima da média de temperatura do século XX.

Modelo de neves marcianas

Hartmann, cientista sênior do Instituto de Ciências Planetárias em Tucson, Arizona, declarou que ele e sua equipe confirmaram a eficácia dos modelos de computador terrestres usando-os para prever as condições em Marte.

Novas observações de satélite de geleiras, fluxos de gelo e outras características do planeta vermelho mostraram que as previsões dos modelos corresponderam ao que havia na superfície marciana, comentou Hartmann em uma entrevista por telefone.

Uma diferença chave entre a Terra e Marte é sua inclinação, explicou ele. O eixo da Terra é fixo, com variações muito pequenas, de 23,5 graus, mantidas estáveis pela força gravitacional de nossa lua. Essa inclinação é responsável pela mudança de estações à medida que a Terra se desloca ao longo do ano, inclinando alternadamente seus hemisférios norte e sul em direção ao sol.

Marte não tem uma lua grande para estabilizar sua inclinação, então seu eixo rotacional pode variar até 70 graus em direção ao sol. Quando isso acontece, o gelo polar evapora e libera umidade para a atmosfera marciana, que produz neve, gelo e geleiras nas latitudes médias de Marte. A última vez que isso aconteceu, observaram os astrônomos, foi entre cinco milhões e 20 milhões de anos atrás.

Determinando o eixo variável, topografia, atmosfera e outras informações do planeta, os modelos climáticos previram regiões específicas das grandes nevascas, e os remanescentes dessas neves estão lá, disse Hartmann. Assim como os fluxos de gelo e outras características, vistas pelo Mars Reconnaissance Orbiter da NASA.

“Realmente temos muitos individuos, particularmente em nosso país, afirmando que os estudos dos modelos climáticos globais têm muito pouco valor”, declarou Hartmann. “Se podemos executar esses modelos em Marte e realmente vemos coisas que coincidem com o outro planeta, então devemos estar fazendo alguma coisa certa.”

Traduzido por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil